O empresário e o seu “espírito animal”

John Maynard Keynes, economista britânico dos mais respeitados do século XX e considerado o pai do “keynesianismo”, ao produzir sua teoria econômica que contestava as teorias neoclássicas, revolucionou e fundamentou várias políticas econômicas da época. Seus conceitos são adotados até hoje nos países nórdicos, locais cuja população mantem excelentes padrões de vida.

E por que fiz esta introdução? Muitos de nós já ouvimos, em algum momento, a citação “espírito animal do empresário”; porém, o que poucos sabem é que esta é uma figura de linguagem criada por Keynes para tratar da razão do empreendedor quando ele está tomado pela ânsia de investir.

É uma questão, acima de tudo, psicológica e até certo ponto, irracional, que estimula o empresário a crer que seu investimento lhe trará resultados positivos no futuro.  Nesse momento, o cálculo racional sobre o risco do fracasso é posto de lado, pela confiança psicológica do empreendedor em seu investimento. Algo comparável ao homem saudável que coloca de lado a expectativa da própria morte.

O sentimento do empresário quanto à retribuição do seu capital investido, é movido pela sua condição psicológica empreendedora. Só que, neste nosso século XXI, essa figura de linguagem não cabe mais como recurso para levar o empreendedor a investir seu capital num negócio incerto.

O empresário deve mudar seus traços psicológicos porque o mercado também tem alterado seu ambiente natural. O empreendedor de hoje deve se cercar de ferramentas impensáveis no século passado. Deve calcular cada passo dado em seu investimento. Toda sorte de índices lhe devem ser oferecidos para auxiliá-lo na tomada de decisão. Até mesmo seu espírito animal deve ser mensurado.

Existe hoje termos mais atuais, como o chamado “índice de confiança do empresário”, ou mesmo o “apetite ao risco empresarial” que, sem dúvida, devem ser observados.  Em outras palavras, é possível calcular com certo grau de precisão, como deve ser o espírito animal daquele que investe capital na incerteza do mercado.

Imagine um empresário que vai ao médico para verificar sua saúde e, desse modo, afasta o temor da morte prematura. Para tanto, executa uma série de exames laboratoriais que demonstram o regular funcionamento biológico de seu corpo. Analogicamente a essa constatação científica da sobrevivência física, no mundo dos negócios, esse mesmo empresário deve procurar descobrir, por meio de sondagens, seus índices de confiança, com o intuito de afastar a expectativa de fracasso (ou morte) de seu investimento.

Se ainda ficar com dúvidas, pode se socorrer de profissionais da “psicologia empresarial”, ou seja, aqueles que são mais conhecidos como consultores.

Esse é o empresário do século XXI, estressado e com muitas dúvidas e, por que não dizer, com mais medo.

A hostilidade do ambiente empresarial atual, onde o Estado intervém na atividade privada, é gritante. O Estado está presente em toda e qualquer atividade empresarial. O governo não pode ver nada funcionando que põe nele um encosto, que é sua onipresença no mercado, como uma entidade espírita que se apresenta toda vez que o empresário tem a iniciativa de arriscar no investimento produtivo.

O mercado do século XXI, portanto, não é mais como uma terra inexplorada onde o animal empresário arrisca seu capital e tem que contar apenas com seu espírito desbravador. O mercado de hoje é um parque ecológico, uma reserva ambiental restritiva da atividade empreendedora.

Para o bem do capitalismo, se espera o afrouxamento dessas amarras; mas, arrisco dizer que, o que vem por aí no ano que está começando, está muito longe disso.

 

Milton Braz Bonatti

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