Em sua história, o Brasil tem sucessivos eventos ao longo do tempo, onde empresas que detinham marcas de muita representatividade, da noite para o dia surpreenderam seus investidores com anúncios bombásticos referentes à sua saúde financeira e, por consequência, o risco (ou até mesmo a afirmação) da falta de condições de continuidade dos negócios.
O exemplo mais recente foi o da Lojas Americanas, que no mês passado fez o anúncio da descoberta de uma dívida não declarada em suas demonstrações financeiras, primeiro de R$ 20 bilhões e depois estimada em R$ 41 bilhões.
Para os menos avisados, passar em frente a uma loja da Americanas ou mesmo procurar os serviços de vendas por ela disponibilizados em seu site, pode dar a falsa impressão de que os negócios da empresa seguem sem qualquer alteração, incólumes. Mas, nos bastidores, com certeza, a situação é bem diferente. Excluída de todos os índices da Bolsa de Valores brasileira, o mercado acompanha com grande inquietação os próximos passos da companhia após o pedido de recuperação judicial.
A recuperação judicial é um mecanismo que permite que uma empresa, em crise, suspenda pagamentos e renegocie suas dívidas, colocando seus fornecedores e demais partes interessadas em polvorosa. O caso da Americanas não é único no Brasil; diversas grandes companhias recorreram a este expediente devido a graves problemas contábeis-financeiros, sendo que algumas até deixaram de existir.
Na lista a seguir, cito apenas algumas, que no passado reinaram absolutas em seus segmentos, mas acabaram vítimas de seus erros e da instabilidade da economia:
Em setembro de 2022, o Tribunal de Justiça de São Paulo decretou a falência do Grupo Itapemirim, que atuava no transporte rodoviário e aéreo. O grupo estava em recuperação judicial desde 2016 e tinha dívidas estimadas em mais de R$ 2 bilhões.
A Varig, em uma crise financeira que se arrastava desde o final da década de 90, encerrou suas atividades em junho de 2006, também após um processo de recuperação judicial. Foi desmontada e depois vendida para a Gol, com salários atrasados e mais de cinco mil demissões.
Ícone do varejo brasileiro, o Mappin chegou ao país em 1913 com a proposta de ser uma loja de artigos e bens de luxo. Com a crise de 1929, se adaptou e adotou um modelo mais acessível às classes menos favorecidas. Os anos de prosperidade se estenderam até a década de 1990 quando, em uma decisão ambiciosa, o Mappin iniciou uma grande expansão comprando lojas de empresas concorrentes. Em 1995, veio o anúncio – um prejuízo de mais de R$ 20 milhões, que resultou na venda da empresa. Adquirida pelo empresário Ricardo Mansur, também administrador da Mesbla, os negócios da companhia não prosperaram e a varejista teve sua falência declarada em 1999, assim como a Mesbla, com mais de 28 mil funcionários em todo o território nacional. Vinte e três anos depois, em maio de 2022, a empresa anunciou seu retorno no e-commerce, mas ainda luta para ganhar representatividade.
Mais uma vítima da década de 1990, a Arapuã era uma das maiores varejistas do país e chegou a ter mais de duas centenas de lojas em todo o território nacional. Fundada em 1957, no interior de São Paulo, se especializou na venda de produtos eletroeletrônicos, e com o passar do tempo ganhou notoriedade. Em 2002, o seu endividamento chegou a R$ 1 bilhão e causou o fechamento de lojas e demissões em massa, tendo sua falência decretada em julho de 2002.
Outro nome clássico do varejo brasileiro, as Lojas Brasileiras (Lobras), rede de lojas de departamentos e variedades que existiu entre 1944 e 1999, viveu anos de glória até ser fechada após anos operando no prejuízo. Em 1982, as Lojas Marisa compraram o controle acionário das Lojas Brasileiras e parte das suas lojas se tornou unidades da Marisa. As duas marcas coexistiram até 1999, com as Brasileiras atuando nos departamentos e a Marisa tendo foco em moda e roupa íntima feminina. As Lojas Brasileiras anunciaram o fim das atividades em julho de 1999, após uma série de prejuízos financeiros.
Agora, o que todas essas empresas tinham em comum? má administração! Aí, independentemente da sua magnitude, não há contabilidade que dê jeito…
Milton Braz Bonatti