Fazer Contabilidade não é nada mais do que contar uma história

Gostaria de começar este texto discorrendo sobre uma palavra que compõe o título desta matéria.

Em muitas ocasiões as palavras “história” e “estória” são usadas como sinônimos. No entanto, há autores que estabelecem diferenças entre as duas. Indicam que a palavra “história” remete para a área que se ocupa do estudo e registro dos acontecimentos importantes para o ser humano, enquanto uma “estória” relata acontecimentos que, em tese, são fictícios.

Muitos especialistas do ramo da etimologia, entretanto, indicam que a existência destes dois vocábulos é um verdadeiro devaneio estilístico, sendo que a palavra “história” deveria bastar. Assim, a distinção entre os dois termos deve ser feita através do contexto do que se relata.

Na verdade, a palavra “estória” tem sido muito pouco utilizada na atualidade, porque “história” tem servido para descrever narrativas reais e também de ficção; mas, se eu tivesse que escolher entre ambas, uma para utilizar neste texto, certamente seria “história” pois, em minha modesta concepção, a contabilidade não tem nada de fictício; ela simplesmente relata acontecimentos importantes e fidedignos.

Muita gente ainda acha que fazer contabilidade de um empreendimento significa anotar números na coluna de créditos e na de débitos. Sim, isto também, mas, principalmente denota resumir a história do empreendimento de um jeito inteligente e proveitoso.

No Brasil, é preciso desmistificar a ideia de que a contabilidade é só uma ciência exata pois, além de ser uma ciência exata, é também uma ciência social. Em resumo, o contador classifica os eventos que constituem a história de uma empresa, atribui um número ou uma sequência de números para cada um deles e organiza-os assim classificados e numerados em uma “demonstração contábil” – um relatório.

O propósito da contabilidade é permitir que o administrador da empresa bata os olhos na demonstração e entenda rapidamente o que tem acontecido e utilize as informações para melhor conduzir o seu negócio. Por ela (a contabilidade) ele pode entender depressa a história da empresa, porque o contabilista organiza as informações de um jeito padronizado e facilmente decifrável.

O administrador de uma empresa jamais deve perguntar: “Os números a respeito da minha empresa estão bons?” O que ele deve perguntar é: “Os critérios segundo os quais obtive os números a respeito da minha empresa são bons?” Deve ainda se perguntar: “Também estão bons os critérios segundo os quais peguei os números da empresa e os combinei num relatório, de modo a resumir o que vem acontecendo com ela?”.

Não se pode ter definições mirabolantes da contabilidade. Ela é uma forma de sintetizar tudo aquilo que a empresa fez. É, portanto, uma espécie de narrativa, uma história. A maioria das empresas que vão à falência, quebra porque escolheu os critérios errados pelos quais visualizar o que está acontecendo. Vale a pena estudar um pouco de contabilidade – é bom aprender a contar a própria história usando os métodos de empresas competentes, pois assim aumentam as chances de que a empreitada produza bons frutos.

Os brasileiros (com raras exceções) não têm a cultura de fazer ou encomendar demonstrações contábeis. Ele nunca aprendeu a usar um balanço e as empresas de contabilidade muitas vezes nem oferecem isso, pois cobram mensalidades muito baixas e se incumbem apenas de gerar guias para que o cliente esteja em dia com o fisco. Nada mais…

Parte do problema é que o empresário vê a contabilidade como uma coisa muito técnica, quando deveria saber que a contabilidade é a arte de registrar o que está acontecendo com a empresa, de produzir relatórios interessantes e de estudá-los como quem estuda o resumo de uma vida.

Todo dono de um empreendimento, seja qual for, deve se transformar em um pesquisador da área da contabilidade. Deve conhecer e acompanhar em tempo real a história da sua empresa.

Deixar isso para amanhã pode ser que seja tarde demais!

Milton Braz Bonatti

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