Permito-me hoje fugir das ciências contábeis para escrever sobre a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Mogi Mirim, da qual tenho a honra de figurar no cargo máximo desde 2017, que é o de Provedor.
Servir-me-ei do brilhante artigo há pouco publicado neste Jornal, de autoria do Dr. Luís Rodolpho Furigo (advogado, ex-procurador Jurídico da Irmandade da Santa Casa, pesquisador e vice-presidente do CEDOCH).
- O início: a Irmandade, que foi fundada em 6 de abril de 1867, completou 154 anos em 2021. Ninguém de expressão social e midiática festejou. Não houve registro algum de tal passagem em jornais e redes sociais; afinal de contas, o que é mais um ano para quem já tinha 153. Para mim é muito importante! Relembremos então: Seu primeiro Provedor foi o Irmão (Fundador) Padre Luiz José de Brito, hoje elevado por homenagem póstuma a Irmão-Esmoler. O compromisso inicial (Estatuto Social) era de grande característica e tradição religiosa, o que hoje foi reavivado. A admissão dos Irmãos era praticada de maneira cooptativa dentre a “bôa gente”, tal qual sempre será entre nós, sem interesses pessoais. A devoção institucional se dava ao espírito caritativo, baseado na filantropia religiosa (cristã), em humanizar a atividade hospitaleira em favor dos necessitados para o desempenho de tal atividade humanitária. Isto é a síntese da missão, visão e valor da Irmandade. Aliás, o lema hoje revivido é: “Se o dom é servir, sirva!”
- A ambição maior dos seus fundadores: a Irmandade, desde o início, nutria o anseio da construção de um Hospital para os necessitados. Foram necessários quinze anos, desde a sua fundação, para que se conseguisse a captação de recursos financeiros para tal fim. Com o local escolhido, situado no Largo de São Benedito, foi lançada a pedra fundamental e o início dos trabalhos de construção. O primeiro Hospital é então inaugurado em 06 de julho de 1883. O Hospital (“Santa Casa de Misericórdia”) é, por sua peculiar característica servil, patrimônio institucional e inalienável da Irmandade, dedicado à missão hospitaleira.
- As intervenções: poucos sabem e alguns podem estranhar (pois se esqueceram de contar… ou não pesquisaram a contento), com a intervenção atual, a Santa Casa de Misericórdia (o Hospital) já foi ocupada por três vezes (em 1932, 2012 e 2019), todas sob pretexto de “intervenção administrativa”. Apossamentos bem interessados, de viés político, isso sim! A primeira delas, em 1932, ocorreu durante a “Revolução Constitucionalista”. Interessante registrar que, assim como aconteceu há pouquíssimo tempo (2012 e 2019), lá atrás, o “Poder” almejou tomar o Hospital da Irmandade para exclusivos fins políticos, o que sabidamente não aconteceu e seguramente jamais acontecerá. Aliás, registrado está pela história que o futuro não foi muito condescendente, em política, com os que assim se propuseram. Sempre aqueles que, dessa forma intentaram, acabaram por amargar a derrota política na sequência.
- A honra de ser um Irmão: para alguém ser merecedor de ostentar o título de Irmão, deve primeiramente conhecer da história da Irmandade. Conhecendo a história, deve praticá-la, sem temor e servidão aos vis anseios mundanos. Quando se diz que alguém é Irmão, referimo-nos a pessoas que diariamente se expõem ao clamor público. São essas pessoas que, com desinteresse pessoal, se sacrificam diariamente para que vidas possam continuar sendo salvas.
- Um ponto final para reflexão: a Irmandade tem suas máculas, com toda certeza; porém, já se perguntaram como seriam esses 154 anos se ela sequer houvesse existido? Quis Deus que assim não fosse e permitirá Ele que ela sempre exista.
Como sempre digo, nós passaremos, mas a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Mogi Mirim, não passará!
Milton Braz Bonatti é Contador, hoje escrevendo como Provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Mogi Mirim.